DESORDEM apresenta 20 cenas dramatizadas que buscam representar de modo simbólico o inconsciente coletivo do homem contemporâneo. Os personagens fazem referência à arquétipos da humanidade através da cultura pop, literatura e mitologia.
Fenanda Chemale cria um diálogo visual entre fotografia, artes e a poesia de Gisela Rodriguez. São relações entre passado, presente e futuro que enfatizam um plano suspenso, quimérico e fabuloso, um retrato de uma sociedade permeada por relações interpessoais falidas e interligadas por medos, imaginações, emoções e modos de vida.
Inquietude/Inquietude
Ser entorpecido pelo ar da aldeia
cidade de edifícios exatamente concretos
corretos no relógio intransponível do tempo
– Eu tenho que existir!
Os lilases se perderam antes do anoitecer
não há como resgatar cores puras
Dos olhos, só névoas
Brumas acinzentadas de rodas gigantes
e monstros rodopiando na periferia do caos.
Os mares verdes-azuis têm gosto tão profundo
ah… Rebeldia urbana!
To be torpid by the village air
a city of exactly concrete buildings
all correct, in the insurmountable clock of time
– I must exist!
The lilacs were lost before dusk
there is no way of rescuing pure colors
From the eyes, just haze
Grayish fog from Ferris wheels
and monsters spinning on the edge of chaos.
Bluish-green seas taste so deep
ah… Urban rebellion!
Inspiro e expiro / I Inhale and Exhale
Da sacada, os velhos observam
A falta de tempo dos jovens.
Cães presos em latidos selvagens
Vagarosamente, em apartamentos.
Se titubeia na avenida uma borboleta
Velocidade recrudescente
Do ânimo dilacerado devora,
a pressa
encravada em todas as
encruzilhadas.
From the balcony, elders observe
The lack of time of the young.
Dogs leashed in wild barks
Slowly, inside apartments.
Wavering on the avenue, a butterfly
Recrudescing speed
From mangled disposition, it devours
the rush
anchored at every
crossroads.
Cientificamente programada / Scientifically programmed
Manipulem minha alma se possível
Inaugurem uma genética lucrativa
Artificializem minhas rugas e embates de ossos
Sob os mármores dos séculos que ainda não vivi
——————————-
Manipulate my soul, if possible
Inaugurate lucrative genetics
Artificialize my wrinkles and bone struggles
Under the marbles of the centuries I am yet to see
Seguir / Proceeding
Que a razão busque o sentido
Neste deserto de areias envolventes,
Buscar o sentido
Esta cicatriz exposta ao sol,
Sangue vivo que levará consigo
Um mundo
Dentro de um santuário perdido.
—————–
Let reason search for meaning
In this desert of alluring sands,
To search for meaning
This scar in the sun
Live blood that will take with it
A world
Within a lost sanctuary.
Cúpula Nuclear / Nuclear Summit
Segunda feira retalhada em jornais
Na espreita de um acaso do destino:
Possibilidades incríveis de terrorismo
Barbárie tecnológica.
A cidade é acordada por enigmas
Cuspida, a indispensável segurança.
Polícia no meu café da manhã
Engulo um pão e pavor
Nossos líderes(?) conversam.
——————————
Monday shredded in newspapers
On the prowl for a chance of fate:
Incredible possibilities of terrorism
Technological barbarity.
The city is awoken by enigmas
Needful security is spat out.
Police in my breakfast
I swallow bread and dread
Our leaders(?) converse.
Cidade do Medo / City of Fear
Crédito permissivo
Débito estratégico
Drive-thru alucinado
Em um almoço engomado,
Queria poder dizer
Te amo, é pra valer
Mas falta momento de encanto
Onde o trivial é normal
E comum é ser nenhum –
Relógios contêm o tempo
Esmagado.
———————————
Permissive credit
Strategic debit
Crazed drive-thru
For a starched lunch,
I wish I could say
I love you, for real
But there is no moment of charm
Where trivial is normal
And common it is to be nobody –
Clocks contain time
Squeezed.
Seguir / Proceedin
Que a razão busque o sentido
Neste deserto de areias envolventes,
Buscar o sentido
Esta cicatriz exposta ao sol,
Sangue vivo que levará consigo
Um mundo
Dentro de um santuário perdido.
—————–
Let reason search for meaning
In this desert of alluring sands,
To search for meaning
This scar in the sun
Live blood that will take with it
A world
Within a lost sanctuary.
Cúpula Nuclear / Nuclear Summit
Segunda feira retalhada em jornais
Na espreita de um acaso do destino:
Possibilidades incríveis de terrorismo
Barbárie tecnológica.
A cidade é acordada por enigmas
Cuspida, a indispensável segurança.
Polícia no meu café da manhã
Engulo um pão e pavor
Nossos líderes(?) conversam.
——————————
Monday shredded in newspapers
On the prowl for a chance of fate:
Incredible possibilities of terrorism
Technological barbarity.
The city is awoken by enigmas
Needful security is spat out.
Police in my breakfast
I swallow bread and dread
Our leaders(?) converse.
Seguir / Proceeding
Que a razão busque o sentido
Neste deserto de areias envolventes,
Buscar o sentido
Esta cicatriz exposta ao sol,
Sangue vivo que levará consigo
Um mundo
Dentro de um santuário perdido.
—————–
Let reason search for meaning
In this desert of alluring sands,
To search for meaning
This scar in the sun
Live blood that will take with it
A world
Within a lost sanctuary.
Nostalgia / Nostalgia
Feridas mutáveis e recordações
Tal como a veia do animal
E como garras insuportáveis
Tal é a dor da lembrança
E da espera
Por ti, ó imagem!
Visão por sobre o rodapé da cidade
Como se ainda houvessem
Montes por trás das luzes
e a velha árvore
Como se eu ainda pudesse enxergar a beleza.
———————————–
Mutable wounds, and recollections
Such as an animal’s veins
Such as unbearable claws
Such is the pain of reminiscence
And of the wait
For you, o image!
A vision from over the footer of the city
As if there still were
Hills behind the lights
and the old tree
As if I could still envision beauty.
Corrida espacial / Space Race
No espetáculo da terra
Nem tão bela é
A guerra, e suas artimanhas.
Washington, Brasília
Permutas do cosmos
Viagens em avanços
E na colheita,
Para poucos, o arroz.
———————
In the spectacle of Earth
Warfare, with its guile
Is not even that beautiful.
Washington, Brasília
Permutations of the cosmos
Trips in advance
And, in the harvest,
Rice for a few.
Cidade do Medo / City of Fear
Crédito permissivo
Débito estratégico
Drive-thru alucinado
Em um almoço engomado,
Queria poder dizer
Te amo, é pra valer
Mas falta momento de encanto
Onde o trivial é normal
E comum é ser nenhum –
Relógios contêm o tempo
Esmagado.
———————————
Permissive credit
Strategic debit
Crazed drive-thru
For a starched lunch,
I wish I could say
I love you, for real
But there is no moment of charm
Where trivial is normal
And common it is to be nobody –
Clocks contain time
Squeezed.
Cidade do Medo / City of Fear
Crédito permissivo
Débito estratégico
Drive-thru alucinado
Em um almoço engomado,
Queria poder dizer
Te amo, é pra valer
Mas falta momento de encanto
Onde o trivial é normal
E comum é ser nenhum –
Relógios contêm o tempo
Esmagado.
———————————
Permissive credit
Strategic debit
Crazed drive-thru
For a starched lunch,
I wish I could say
I love you, for real
But there is no moment of charm
Where trivial is normal
And common it is to be nobody –
Clocks contain time
Squeezed.
Cidade do Medo / City of Fear
Crédito permissivo
Débito estratégico
Drive-thru alucinado
Em um almoço engomado,
Queria poder dizer
Te amo, é pra valer
Mas falta momento de encanto
Onde o trivial é normal
E comum é ser nenhum –
Relógios contêm o tempo
Esmagado.
———————————
Permissive credit
Strategic debit
Crazed drive-thru
For a starched lunch,
I wish I could say
I love you, for real
But there is no moment of charm
Where trivial is normal
And common it is to be nobody –
Clocks contain time
Squeezed.
Em fim, só / Finally alone
sigo, ouço, mas não ligo
não irei adormecer
no inerte sofá
acalentando sonhos
rosas
não serei mais uma
Barbie no país das condenadas
onde um botox
um cuidado exagerado
algum sutiã desses enormes
com bojo bolha e seus truques
me aniquilem
digo adeus:
posso estar morrendo sem saber
convém sair,
melhor, correr.
—————
I keep going, listen, but don’t care
I will not sleep
on the listless sofa
cherishing pink
dreams
I will not be one more
Barbie in the land of the condemned
where botox
exaggerated care
some huge bra
with bubble cups and their stunts
annihilate me
I say farewell:
I may be unknowingly dying
better get out,
better run.
Devaneio / Reverie
entre roupas e testamentos
papéis de borradas falas –
escritos alucinados
na companhia de cafés,
sobrevoam atordoando
o maltrapilho sentido
da rotina
vendaval
num mundo
(demente estação)
———————–
among clothes and testaments
papers of blurry speeches –
crazed writings
in the company of coffee,
they fly above, stunning
the tattered sense
of routine
a gale
in a world
(demented season)
As aves se ressentem / The birds resent
na trajetória humana
do mês de maio
ainda outono nesse ocidente,
uma plataforma se esvai
litros de petróleo por dia
no mar.
—————-
in the human trajectory
in the month of May
still autumn in this East,
a rig sinks
liters of oil per day
to sea.
Publicidade / Advertising
Moradias e eletrodomésticos,
57 ideias para o quarto do casal
e para manter a paixão,
98 luminárias calculadas pelo Feng Shui,
e um jardim feito jaula para relaxar.
Sim, você está a um passo
De ser devorado,
Pela promoção anunciada
Dessa publicidade pegajosa.
——————————–
Households and appliances,
57 bedroom design ideas
to keep passion alive,
98 Feng Shui-calculated lamps,
and a garden like a cage in which to relax.
Yes, you are one step away
From being devoured
By the advertised offer
Of this gooey advertising.
Pátria / Homeland
Nos veremos em breve
Caro leitor, porque a fuga
Não existe de fato.
Digam-me, que herói posso suportar?
Seria qualquer mártir da pirataria
Ousaria regar ervas venenosas
E aguardar a revolução.
—————-
We’ll see each other soon
Dear reader, for escape
Does not, in fact, exist.
Tell me, which hero could I play the role of?
It would be any piracy martyr
I would dare water poisonous weed
And await revolution.
Pátria / Homeland
Nos veremos em breve
Caro leitor, porque a fuga
Não existe de fato.
Digam-me, que herói posso suportar?
Seria qualquer mártir da pirataria
Ousaria regar ervas venenosas
E aguardar a revolução.
—————-
We’ll see each other soon
Dear reader, for escape
Does not, in fact, exist.
Tell me, which hero could I play the role of?
It would be any piracy martyr
I would dare water poisonous weed
And await revolution.
Pátria / Homeland
Nos veremos em breve
Caro leitor, porque a fuga
Não existe de fato.
Digam-me, que herói posso suportar?
Seria qualquer mártir da pirataria
Ousaria regar ervas venenosas
E aguardar a revolução.
—————-
We’ll see each other soon
Dear reader, for escape
Does not, in fact, exist.
Tell me, which hero could I play the role of?
It would be any piracy martyr
I would dare water poisonous weed
And await revolution.
Personagens e Artistas
Ophelia, Gisela Rodriguez | Casa da poeta (Vila Assunção)
A autora dos poemas do livro mergulhada em seus conflitos como a noiva de Hamlet, inspirada na obra de Shakespeare, representa o alterego da escritora onde personagem e artista se misturam.
Casulo, João Carlos Castanha | SAFE Park Duque de Caxias
Ocupados com o autoconhecimento, nos preparamos para a metamorfose que há de vir. O plástico representa o paradoxo que a contemporaneidade enfrenta.
Louco, Wander Wildner | Orla do Guaíba
Di Prima, Clarisse Nejar | Aeroclube do Rio Grande do Sul
Medusa, Kátia Suman | Praça Açorianos
Prometeu, Eduardo Bueno | Vila Flores
Borges & Medeiros, Lauro Ramalho e Elison Couto | Av. Borges de Medeiros
Cigana, Deborah Finocchiaro | Praça Júlio de Castilhos
Minotauro, Pascal Berten | Utopia e Luta
Guerreiro, Zé da Terreira (Dragão: Alexandre Fávero) | Viaduto da Conceição
Rayuela, Gica Beatnik e Wander Wildner | Viaduto Otávio Rocha
Alice, Rochele Zandavalli | Biblioteca Pública do Estado do RS
StonEna, Ena Lautert (Concepção Alexandre Antunes) | Rua Cabral
Dominadora, Daniela de Paula (Dommenique Luxor) | De Marchi Pneus
Prenda Negra, Heinz Limaverde | Usina do Gasômetro
Barbie, Elisa Volpatto | Igreja Nossa Senhora das Dores
Chinaski, Otto Guerra | Av. Bento Gonçalves
Caperucita Roja Beatriz Borges (grafitte JP Pax-Lídia Brancher) | Rua Lopo Gonçalves
Arlequim, Edu K | Parque de Diversões Zapt Zum
Ulisses e Penélope Luiz Paulo Vasconcellos e Sandra Dani | Parque Farroupilha
Nanda, as fotos estão simplesmente lindas demais, o figurino, as locações, os personagens. Um mergulho na fantasia. Parabéns.
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Gracias Déia!!! venha visitar quando estiver em Porto Alegre!!! beijo
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